sábado, 10 de outubro de 2009

CARTA ABERTA AO ESCRITOR CRISTOVAO TEZZA, A RESPEITO DO LIVRO "O FILHO ETERNO"

por Virginia Denis

DE QUE ADIANTARIA QUESTIONAR sobre o conceito que se tem do coração de uma família, se para alguns essa percepção está interligada com pensamentos muitas vezes hipócritas, quando a frieza é exercida de forma sutil e impiedosa, alimentando-se da crítica fundamentada em espelhos retorcidos encontrados nos circos? Seria quimera buscar um coração realmente amoroso em alguém que, num golpe de mestre, usa um ser que não pode optar pela exposição? Então, que validade teria falar sobre a questão do ser enquadrado universalmente, como um todo e não como um protótipo das frustrações e da indisposição com o próximo, em que muitas vezes este próximo é o ser amado? E do desrespeito, do desleixo, da falta de compaixão e misericórdia, se alguns estão tão obcecados pela corrida ao cume, ao mais alto posto ditado pelo ego que goza esparramado, espaçoso, dando a ilusão, ao homem comum, de que isso é crescimento?

Penso que alguns seres recebem algumas bênçãos para fazer algo pela humanidade, mas estão se perdendo na megalomania, vivendo uma falsa sensação de poder, eliminando, assim, toda a oportunidade de gozar o sabor genuíno do amor entregue ao seu semelhante, consequentemente ao Céu, atraindo para si um obstáculo que só será removido pelo sofrimento.

O QUE DIZER A ESTE ESCRITOR que, sem respeito algum aos mortos e aos vivos, enxovalha uma família, talvez para se mostrar alguém com alguma vivência num mundo subterrâneo, pérfido ou místico, pelo que se entende por perfídia ou misticismo? Talvez o recôndito desejo mórbido causado pela falta de vivências reais de abandono e repúdio?

ENTÃO, VAMOS FALAR DE DOLORES, ser iluminado que, em seu tempo, foi guerreira ao buscar a essência do amor em si mesma e em seus semelhantes, acalentando o melhor em cada alma que por ela passou. Dolores, um ser que transbordou a coragem de viver de acordo com os mandamentos do seu coração, pulsante nas artes, assim como a águia que não tem medo de renascer. Dolores, mulher libertária, de fibra, que semeou beleza em seres assustados pela ignorância, pela arrogância e pelo autoritarismo que imperavam em sua época. Descrita por este autor de modo tão irresponsável, Dolores seria defendida ontem e hoje de forma assustadora pelos seus filhos mais passionais, já falecidos, pelo simples fato de carregarem em si as sementes fortes e únicas por ela plantadas. Então, a pergunta também é simples: qual é a noção de família deste autor? E como pode ele se sentir no direito de emporcalhar os sentimentos, a admiração de filhos, netos e bisnetos desta mulher?
Será que este autor, no intuito talvez de elevar-se às alturas de seu castelo, em seu tão “aparente, correto e aceito” mundo das fotocromáticas, camaleônicas máfias, em sua sede pelo pódio, na cegueira do ouro pendurado no pescoço, pode cometer este tipo de engano?

MAS QUEM É DOLORES NESTE MUNDO subordinado a egos histéricos? Ninguém?! Ela foi alguém que tentou deixar um legado um pouco mais bonito em quem por ela passou. Alguém que, assim como muitos da sua época, experimentou algumas drogas, como álcool, cigarro, maconha, mas que morreu de derrame cerebral e não de overdose, como este autor conta, em seu livro, de forma mentirosa, medíocre e irresponsável. Mas, mesmo que fosse verdade, o mínimo que este autor deveria ter feito seria consultar a família.

É realmente triste ver alguém que, talvez, por medo de vivenciar a própria essência, esconde-se por detrás de histórias mal construídas, pois, penso eu, que o tempo de se falar em drogas, drogados, gurus, como sinônimo de experiências místicas, é arcaico há algumas décadas. Este autor não percebe que, hoje, tais histórias sobre drogados e gurus são extremamente perigosas para uma geração que se debate com princípios, na eterna corrida ao número um, na gama de informações fragmentadas que o mundo globalizado lhe oferece.

NÃO, PABLO NÃO ERA URUGUAIO, mas argentino, nascido em Mar del Plata: ser de muita grandeza em relação aos seus semelhantes. Por ocasião de seu enterro, a cidade de Paranaguá sentiu muito a sua partida, todos os amigos estavam lá para lhe dar o último adeus. Pablo, homem honesto e digno, que buscou ajudar a todos que encontrou durante o seu tempo conosco, aqui na Terra. Homem de cultura deslumbrante, diplomata, desapegado da matéria, crédulo, idealista, que lutava por causas nobres, que plantou em seus filhos a dignidade, o respeito e a benevolência. O autor descreve a casa de Pablo como um antro de bebedeiras e jogatina só porque nela tomou umas caipirinhas ou porque viu amigos de Pablo jogando uma prosaica partida de canastra?

VIRGINIA, UMA CRIANÇA LIVRE em seu lindo mundo esvoaçante. Um ser idealista, corajoso que sempre pagou o seu preço. Alguém que encontrou lá no fundo da alma a força, a gratidão, a graça para continuar sorrindo nas asas da criação do seu Criador, alguém que está só de passagem pelo universo teatral. Alguém que clama pelo coração de uma família, pois caminha em direção ao conjunto de fatores que englobam o sentido de ser de uma família, em virtude de conhecer seus pés andarilhos e suas mãos macias envoltas nas cinzas do seu enterro, onde ela sabe que a humanidade cresce nas mortes vividas em lampejos e ensejos, onde se encontra a paz dos labirintos silenciosos. Virginia, alma presa ao corpo terrestre, disposta, de prontidão, para buscar e doar o talismã oferecido por incumbência, pois joga seu barco mar adentro pela inspiração e complacência de seu Criador. Virginia, que vive o feminino encontrado somente nos trapiches do seu coração, onde a alma flutua dançarina, graciosa, absoluta, encoberta pelo manto da vastidão dos pergaminhos encontrados em sinais luminosos que coexistem com a primazia do etéreo e, nunca mortificado ou ejaculado pelo ser em desordem. Virginia, longa caminhada por desertos de egos escorregadios e camuflados, onde a resposta só virá depois da abertura do passaporte para o hemisfério em cruz. Virginia, alguém que já chorou toda a sua desmedida paixão pelo terno, pela doce dança dos ventos refrescantes em noites de verão, pelo desapego que encerra sua viagem pelos carnavais, pela utopia de seus gestos e palavras que confundem e se fundem ao oco do ser em órbita transversal, pela dor que nem a viu passar, pelo desperdício das palavras que foi buscar em sua essência cabocla das ilhas pardas do segundo império mais veloz do ancoradouro espinhal. Quem dançaria nos ritmos africanos que descobrem a única e eterna visão do seu Criador? Quem descortinaria o além-mar, só para ver o seu sorriso maroto, saboroso em seu habitat natural, o seu secreto quintal, deixando para trás seus esqueletos empoeirados para desabrochar no riso secundário que eleva ao sete e não à libido?

Virginia, alguém que ama a arte pelo que se descobre através dela, e não a entende sem o sentimento de gratidão, pois só assim se faz possível a existência de um verdadeiro artista, e que escolheu estar mais no caminho dos sentimentos, como os seus guias, para uma percepção mais apurada das reações e buscas humanas. Virginia, que fala das suas emoções sem medo dos marqueiros, dos atributos, adjetivos etc., que estejam em alta nas rodas dos papagaios intelectuais, pois sabe que muitas vezes precisam propagar erudição para se manter em seus poleiros, disputados com “rostos de um lugar ao sol”, sendo que o sol aquece e, em momento algum, nos traz a frieza e o cinismo dos vampiros nos quais nos transformamos.

COMO A VIRGINIA IRIA ENTRAR COM UMA AÇÃO de CALÚNIA E DIFAMAÇÃO e requerer RETRATAÇÃO PÚBLICA, como algumas pessoas amigas sugeriram, criando assim situações constrangedoras e retrógradas, se tudo o que ela quer é poder estar com suas asas soltas, pescando ou vendo um filme? Seria muito estúpido travar esse tipo de batalha com quem quer que seja, a não ser que isso traga alimento saudável para a alma.

Então, esta carta aberta ao autor é somente um meio de poder, tentar, chegar ao seu coração para que ele, se quiser, repense e não cometa mais esses enganos, pois, mesmo se tivesse trocado os nomes dos personagens, todos os que estavam lá, no contexto da época, saberiam de quem se estava falando e, mesmo assim, afetaria a família. Esta carta foi escrita também para os filhos, netos, bisnetos e amigos de Dolores e Pablo, para que eles saibam que alguém gritou por eles, não se curvando ao descompassado ritmo das dores causadas pela ignorância dos que não percebem que o próximo merece respeito e consideração. E, por mais que os sentimentos dos legatários de Dolores e Pablo sejam vistos com parcimônia, eu peço para que eles nunca esqueçam do vital legado, amorosamente deixado e simplesmente continuem, continuem, continuem: “O voo está exclusivamente na alma que se atira em busca da melodia única, voz tamanha, cantiga de ninar, dança, alquimia entranhada e vivificada a cada metralhadora que não se engatilha”.

Só quem teve a coragem de vivenciar o que realmente brilha dentro do peito, o que dignifica uma estrada, o que transpassa toda regra covardemente acomodada, encoberta pelo manto da boa convivência, o que ultrapassa a conveniência abarrotada de prepotência, só quem teve um pedaço do coração enterrado junto com o ser amado, assistindo-o morrer à míngua, virar trapo de chão, corroído pelas dores que a solidão humana lhe causava, poderia pensar em descrever o mundo que este autor, pretensiosamente, quis mostrar.

Eu, Virginia, gostaria muito de ter me sentido lisonjeada por ter sido o primeiro amor na vida de alguém, até porque Cristovão era um amigo lembrado com carinho, mas a dor que meu peito sentiu ao ver como este autor espremeu o coração dos descendentes de Dolores e Pablo (tão poucos no Brasil e, por isso, tão carentes de família), foi algo que me fez sentir, só por alguns momentos, a ira do escorpião. Por isso, não aceitei o convite tão convicto dos que realmente acreditam que eu deveria processá-lo. O lúdico que talvez existisse em ter sido um primeiro amor, a dor nem me deixou perceber, o que dirá sentir. Que pena! .

Fica, também, a pergunta: como um descendente de Dolores e Pablo pode recomendar este livro, por melhor que ele seja?
Mas eu creio que este tipo humano não interessa ao autor, não é seu público alvo, seus livros não são para essas pessoas. Então, talvez, realmente não importe. Alguns dizem que estou fazendo propaganda do livro do Cristovão e que ele nem vai tomar conhecimento, mas eu discordo, pois primeiro ele não precisa de mim para divulgá-lo, assim como não precisou quando escreveu o livro. Segundo, Cristovão Tezza sabe que estou sendo honesta, sincera, verdadeira em minhas atitudes, ele sabe quem eu sou, o seu coração sabe.

4 comentários:

  1. Virginia amei o que voce escreveu e estou com voce pro que der e vier, realmente esse tal de cristovao tezza nao sabe o que fala pois so pensa no dinheiro e uma forma de ficar famoso a custas de mentiras pois se fala mentiras no livro pra se promover isso prova o quanto ele e pequeno na sua esencia entao eu pergunto se uma pessoa tao pequena assim como pode falar de alguem, te respondo frustacao, vazio pois so os vazios e frustados falam mentiras da vida dos outros pois nao tem vida vivenciada para colocar no livro entao tem que falar mentiras encher de linguica, so nao tem coragem te contar as suas proprias mentiras suas frustacoes seu vazio esse tal de cristovao tezza poderia ser ate digno de pena mas nem isso pois nao viveu a vida, ficou frustado vendo a vida dos outros serem vividas e agora escreve mentiras para poder encher paginas de um livro mentiroso e maldoso, nao deixe barato mande ver estou com voce sempre, porque se ele nao sabe o que escreve eu sei o leio..beijos sempre - taty - rio grande do norte.

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  2. Olá!
    Muito legal o que você escreveu.
    Eu acho que o autor tinha que ter a humildade de pesquisar as histórias dos reais personagens e não cair no erro de denegrir a sagrada memória da família da Virginia na vala comum da mentira e da superficialidade.
    Beto Collaço

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  3. Virgínia,convivi com você e sua família naqueles tempos difíceis mas prazeirosos; tempos de ditadura militar mas de descobertas, experimentações; paz e amor mas em meio a enfrentamentos com o sistema e com a gente mesmo.
    Entendo o seu desapontamento com o cara; e a sua dor. Muitas testemunhas vivas daquela época estão aí - pasmos e indignados. A leviandade do cara,por não consultar pessoas utilizadas como personagens, mostra bem como se dá a escensão de escritores, cantores, atores e atrizes, de maneira geral, no Brasil de hoje.
    Então, eu já não achava o cara esse "craque da literatura" que estão aí endeusando. Agora reconheço nele um perfeito "perna de pau". Ele não é 'O Cara'. Ele é o carinha que participou da festa e que, agora, resfestelado na sua cátedra, olha asceticamente para o passado. Bem, há dólares e euros em jogo. Vá em frente, estamos contigo.
    Ronald Magalhães

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  4. Jussara Regina Branco - Amiga de Virginia3 de novembro de 2009 às 05:29

    Fiquei um tanto decepcionada com a forma descuidada e desrespeitosa com que o autor Cristovão Tezza tratou pessoas com quem conviveu parte de sua história e na casa dos quais recebeu hospitalidade. Não conheço o autor, sinão por comentários feitos por Virginia há muitos anos atrás, de quem dizia à época coisas boas como que havia sido seu amigo e que era escritor. Houve um choque grande para mim quando Virginia me comentou o que havia ocorrido, envolvendo o nome de sua família. Lamentável que muitos anos após o falecimento de seus pais, hoje pessoas impossibilitadas de se defenderem, um fato lamentável como este veio a acontecer.
    O escritor me pareceu assim, a esta altura de tudo e da vida de todos nós que já passamos dos 40, uma pessoa infelizmente pronta para viver a ainda "Lei de Gerson" - a necessidade de levar "vantagem em tudo". Duvido muito, com sinceridade, que se a familia de virginia Denis hoje estivesse cheia do dinheiro, o autor teria cometido a infeliz falha do mesmo modo!

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