segunda-feira, 16 de agosto de 2010

O NICROMANTE

por Edson Negromonte

cara a cara com o marítimo rocinante, remiro-me. Ora o mar é ocre, o ritmo monótono é ornato no cemitério interior. Antonina, eternamente momentânea. Na cama macia, antônima ao tormento, a amante amara contrai a cona e ri. Narcoticamente, recito à cítara e rio. Amortecimento, trapo roto é manto ao tétrico crime. O crânio, oco, retornará na maré e ecoará, na câmara arcana, o amor eterno. Nem no Antero inteiro, na camoniana, em Marino, Caeiro, Marinetti, encontrarei comércio. Nem na mão de Monet, no cinema, na cinira, nem no teorema, nem no teatro nô... A memória, caótica trará à tona o crânio e atônito encontrarei, na areia, a cimitarra. Miramarina Antonina, a coar o cancro mnemônico. O metrônomo no átrio é iminente a noite. Creio no crânio, a arca, mito e romance, o ícone em mármore. Camorra e mentira, retiniana Antonina. Errata, carma, carne iniciática, nomeio-te matéria. Macera a mirra, corrimento.
Cometi o crime: amei-te, amei o mar, o nácar, o oceano.
Toma, na areia, a arma tinta; corta-me. A mônada, imanente. No entreato,
retira-te. Irmana-me ao cimento.
Cão maior! Coroa! Carneiro! Octante! Câncer! Órion! Raptem-me! Naco a naco, raptem-me.
Anciã, rica em ócio, canaã-anã, trapaceira, irmã, onírica Antonina, a artrite
torna-te torta.
Ao oriente, a tormenta.
Ancora, cetácea, ancora!
Nem rota, nem timoneiro, nem carta, temo a cética e cretina Antonina.
No mirante, a mãe totêmica.
Âncora! Ática. América. Circe. Trácia. Criméia. Cananéia. Tera. Marte. Ciméria.
Terra, terra.
Atraca, Caronte, na terra acre e íntima, a coríntia Antonina.
No meretrício, intimo-te, rameira: ama-me. Catarro e amônia.
O retirante, errático, retorna a remo à mítica Antonina.
Reitera o crime.
Torre, minarete, mar ártico, antártico, titã, conto morar (ironia), na tetânica Antonina.
Não, ai, mãe, corta-me, então, a córnea, corta-me ao meio, torna-me areia marmórea, minério, átomo, matemática. Morto, cremem a mim, enterrem-me no camotim. Em amém, a monotonia teima em corroer a romã.
Rareia o carmim.
Cinéreo canoeiro...
Monocrômica, anacrônica, atraente, arcaica Antonina, não amei-te ao meio, amei-te à maneira inteira; tem-me em conta, atira-me ao trinta e cinco.

5 comentários:

  1. Edson, simplesmente emocionante!
    Delirei ao sentir nos versos o teu sangrar de amor e dor, em Antonina.
    Bravo!
    grande abraço.

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  2. Outra coisa: neste final de semana conversei com Justus e Maurício sobre o blog e pedi a eles para colaborarem. Aceitaram de imediato, ainda mais quando lhes disse que você também colabora através de seu blog.
    abração.

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  3. Giuliano, que legal você estar acompanhando o blog. Ótima notícia! Como vai a vida aí em Jundcity? Abração, meu amigo!

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  4. Edson,
    Estou sentindo falta de seus textos.
    Publiquei uma poesia do Maurício e aguardo o texto de Justus.
    abraço

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  5. Nossa, tem tanto "t" e "r" que a leitura fica parecendo um caminho de pedras, amenizado pela sensação do "m", hehe! Muito boa!!

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