domingo, 31 de janeiro de 2010
JONNY QUEST, O CLÁSSICO
por Edson Negromonte
Em 18 de setembro de 1964 estreava na TV americana a criação de Doug Wildey: o primeiro desenho juvenil dos estúdios Hanna-Barbera – os responsáveis pelas melhores animações para o público infantil de televisão, apesar dos pouquíssimos movimentos e cenas repetidas à exaustão para baratear os custos de uma produção em larga escala. Justamente isso, que à primeira vista parecia um defeito para os animadores da época, acostumados aos grandes orçamentos do cinema, é que veio a ser a virtude dos desenhos infantis produzidos especialmente para a TV, para um público televisivo emergente e ávido por quantidade e alguma qualidade. Qual o garoto que não se lembra do Fred Flintstone correndo e nunca saindo do lugar, o desenho de fundo repetindo-se, dando a impressão de movimento, era um dos recursos mais utilizados pelos estúdios. Só para nos situarmos: em 1963, um dos grandes sucessos da TV era a família espacial Os Jetsons, desenho de baixo custo para o público infantil. “Jonny Quest” era a chance de se produzir um desenho com mais acetatos, além de um cuidado maior com cenários; o primeiro desenho realista dos estúdios HB. Os personagens davam-se ao luxo de piscar e os movimentos labiais procuravam ser naturais. Para uma época sem o recurso dos computadores, isso era apenas o máximo. Os custos dessa aventura romântica eram muito altos e o pouco retorno em níveis de audiência, durante a sua primeira exibição, obrigaram o cancelamento da série após 26 episódios
Jonny Quest inovou não somente na animação, mas também na temática, um misto das aventuras em quadrinhos de Tintim, das pesquisas oceanográficas de Jacques Cousteau, séries de TV, e os seriados de cinema que o criador Doug Wildey tanto admirava. Dos quadrinhos de Tintim, um jovem repórter, acompanhado do cãozinho Milou e do Capitão Haddock, criação do belga Hergé, veio o gosto de Jonny por aventuras pelo mundo, em locações tipo National Geographic Magazine. Ainda a cultura européia, através do pesquisador Jacques Cousteau, deu origem ao personagem Dr. Benton Quest, o pai de Jonny, um cientista a serviço do governo americano que acaba se envolvendo em caçadas a espiões orientais (geralmente chineses, referência ao perigo amarelo tão caro aos seriados da década de 40), velhos nazistas, monstros invisíveis, cientistas loucos (Dr. Zin, seu inimigo figadal aparece em vários episódios), além de lobisomens, gárgulas, múmias e iétis. Além dos seriados, outra paixão de Doug Wildey eram os filmes de terror dos anos 50 e os livros de ficção pseudocientífica de H.G. Wells e Júlio Verne. A série de TV “Fúria” (Fury; 1955/1958) daria origem ao personagem Roger “Race” Bannon. E até mesmo ao personagem principal. Explicando: Bannon é o tutor e guarda-costas de Jonny, assim como na série Fury, o ator Peter Graves, de precoces cabelos brancos e pinta de galã é o padrasto do menino Joey, também loiro e sempre às voltas com aventuras, somente que dentro dos limites da fazenda. Peter Graves era um ator muito famoso na época pela atuação em trash movies e séries como “Chicote” (1960/1961) e “Corte Marcial” (1966).
Ainda, como curiosidade, fazendo as vozes dos personagens secundários há atores importantes, tanto no cinema como na TV: Tol Avery, da série “The Thin Man” (57-58); Pat O’Malley, de “Meu Marciano Favorito” (63-64); Everett Sloane, de filmes para o cinema, como “Cidadão Kane” e “A Dama de Shangai”, além da série “Official Detective” (57-58) e o desenho “Mr. Magoo” (64-65); mais o incansável Keye Luke, dos seriados para o cinema “O Besouro Verde”, de 1940, como o primeiro Kato). Luke está também na sequência “The Green Hornet Strikes Again” (1940), “Adventures of Smilin’Jack” (1943), “O Agente Secreto X-9” (1945) e “Lost City of the Jungle” (1946). Na TV, Keye Luke esteve em séries “Ana e o Rei” (72), “Kung Fu” (72-75), “Harry O” (76), e muitas outras, além de fazer a voz de Charlie Chan no desenho animado (72-74) já que ele havia sido, no cinema, o filho número 1 de Charlie Chan.
Depois de tantas influências, Jonny Quest tornou-se referência obrigatória para todos os criadores posteriores. Não é à toa que John Fante, pois é, ele mesmo, o grande autor de “Pergunte ao Pó”, deu o nome de Raji ao menino indiano que acompanha Terry Bowen, o menino americano que procura o pai, perambulando pela Índia sobre o lombo de um elefante, na série de TV “Maya”. E o que dizer da recente série animada do próprio Tintim, com aventuras tiradas dos álbuns originais de Hergé, com animação explicitamente calcada na série “Jonny Quest”?
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